Data Centers, Mercado Livre de Energia e ESG
Novas tecnologias e serviços emergentes como a Inteligência Artificial, mercado crypto, entre outras, aceleram as demandas energéticas dos Data Centers. O que é o Mercado Livre de Energia e como afeta as estratégias de ESG das empresas de Data Center no Brasil.
O relatório Renewables 2023, da Agência Internacional de Energia (AIE), divulgado em janeiro, prevê que a previsão de crescimento da demanda por eletricidade pode mais que duplicar até 2026. Os motivos: expansões de Data Centers, criptomoedas, e da inteligência artificial. Para se ter uma ideia, na Irlanda, por exemplo, os Data Centers vão consumir um terço da eletricidade do país nos próximos dois anos. O documento ainda aponta que esses três fatores, juntos, consumiram um total de 460 TWh, em 2022 – cerca de 2% da demanda global de eletricidade. Embora todo esse avanço se traduza em mais velocidade, segurança e qualidade de dados, o aumento dessa demanda deve gerar desafios em relação ao sistema elétrico, em todo o mundo. E mais: nos próximos anos, a demanda deve atingir entre 620 TWh e 1050 TWh e a procura global por eletricidade deve aumentar em 3,4% até 2026. O ponto central: essa necessidade poderá ser atendida pela geração de energias renováveis, como eólica, solar e hidrelétrica.
Os Data Centers serão as estruturas que mais crescerão, em todo o mundo, e necessitam de soluções cada vez melhores em eficiência energética para suportar adequadamente o ritmo de desenvolvimento e de consumo de energia necessários para o funcionamento adequado dos sistemas de armazenamento e processamento de dados.
No mercado brasileiro, o Mercado Livre de Energia tem um papel fundamental nas estratégias de sustentabilidade dos Data Centers.
Mercado Livre de Energia
A história do Mercado Livre de Energia no Brasil teve início em julho de 1995, data de publicação da Lei Nº 9.074 – Lei do Novo Modelo do Setor Elétrico – que permitiu, pela primeira vez no país, a alguns grandes consumidores contratarem eletricidade de produtores independentes e não mais exclusivamente das distribuidoras de energia elétrica. No ano seguinte, o Ministério de Minas e Energia (MME) implantou o Projeto de Reestruturação do Setor Elétrico Brasileiro (RE-SEB) a exemplo de países como Grã-Bretanha, Finlândia, Ucrânia e Portugal que haviam passado por esse processo de desverticalização do fornecimento de energia. O projeto separou o setor em três áreas de atuação: geração, transmissão e distribuição; e criou órgãos como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Operador Nacional do Sistema Elétrica (NOS) e o Mercado Atacadista de Energia (MAE).
Em março de 2004, a Lei Nº 10.848 trouxe a desregulação do mercado de energia, que substituiu o MAE pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). Essa mesma lei dividiu o mercado em dois ambientes de negociação de energia elétrica: o Ambiente de Contratação Livre (ACL), onde o consumidor escolhe o fornecedor de eletricidade e tem liberdade de negociar essa contratação diretamente, e o Ambiente de Contratação Regulada (ACR), em que compra de energia é realizada diretamente com a concessionária e o valor é regulado pelo governo. Quase vinte anos depois, até o início desse ano, a compra livre de energia era direcionada para demandas acima de 1000 kW (quilowatts), o equivalente a contas com valores acima de R$ 150 mil/mês.
Uma nova regra foi sancionada em janeiro de 2024, ampliando o benefício para indústrias e comércios que consomem voltagem acima de 2,3 kV – cerca de R$ 8 mil/mês. Agora, essas empresas estão liberadas para negociar preços e fazer contratos direto com quem gera energia – os produtores de energia. Ou sejam usinas que convertem energia de diversas fontes (renováveis ou não) em energia elétrica. Estes agentes podem ser: concessionários de serviço público de geração, produtores independentes de energia elétrica e autoprodutores. Segundo dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) em cinco meses após a promulgação da nova regra, o número de migrações de consumidores brasileiros ao mercado livre de energia superou o total registrado ao longo de 2023. Foram 8.923 mil adesões de janeiro a maio de 2024, 21% acima do que foi realizado durante todo o ano passado. Uma tendência que não para de crescer.
O mesmo relatório Renewables 2023, reforçou a liderança do Brasil na América Latina em relação à expansão de energia renovável. As estimativas apontam um aumento de 165 gigawatts (gW) de geração renovável na região – entre 2023 e 2028, sendo que mais de 65% desse total é representado pelo Brasil. A energia solar lidera a expansão, seguida pela energia eólica.
Os caminhos para transição energética dos Data Centers
A energia elétrica não é a atividade central de um Data Center, mas é um dos principais componentes de custo e deve garantir uma disponibilidade o mais próximo possível de 100%. É fundamental, nesse sentido, buscar soluções que tragam mais sustentabilidade por meio da otimização de recursos e do uso inteligente de fontes renováveis. A eficiência energética não só reduz as contas de energia, mas também permite às empresas o controle de seus custos energéticos.
Os novos mecanismos legais para possibilitar o acesso à geração, produção e distribuição de energias renováveis, por meio de contratos diretos com esses agentes, abrem um caminho bastante otimista em relação ao equilíbrio dessa equação: mais desenvolvimento, menos impacto. Sim, os Data Centers podem ser pontos chave para a redução de impactos ambientais, uma vez que desempenham um papel importante na transição dos consumidores comerciais para fontes de energia mais limpas.
Sabemos que as discussões sobre o Mercado Livre de Energia seguem avançando no Brasil. Porém, a liberdade de negociação, escolha de fornecedores e personalização dos contratos têm o potencial de resultar em preços mais competitivos para os consumidores. Esse é um caminho sendo trilhado de forma inicial por muitas empresas e consumidores, e que exige um conhecimento e acompanhamento específico nos processos de compra e gestão de custos.
Se foram necessários trinta anos para avançarmos na direção de um mercado mais aberto, acessível e competitivo para obtenção de energia elétrica mais sustentável, teremos um intervalo de tempo muito menor para solucionar os desafios da eficiência energética nos Data Centers, que poderá servir de exemplo para outros setores.
Cirion e o Mercado Livre de Energia
A Cirion, no Brasil, contrata energia diretamente pelo Mercado Livre de Energia já há vários anos, sempre privilegiando os produtores de energia renovável. A experiência nos mostra que a atenção à Sustentabilidade da operação é um diferencial importante quando atendemos grandes empresas, principalmente de mercados e segmentos mais exigentes e regulados, assim como traz resultados financeiros positivos à operação e benefícios de médio e longo prazo à sociedade em que todos vivemos.
Autor:
Rodrigo Oliveira
Diretor de Negócios – Data Center, Cloud & Security
Cirion, Brasil
Com mais de 30 anos de experiência no segmento de Data Center e Telecomunicações, Rodrigo traz para os clientes da Cirion o direcionamento necessário para aproveitar a tecnologia a favor da expansão dos seus negócios. Atuou em diversas multinacionais no Brasil, ajudando a construir a operação da Diveo no país. Também foi presidente da unidade da UOL Diveo na Colômbia, quando realizou a venda da filial a Riverwood/Synapsis. Esteve também no comando da Matrix Datacenter.